
Nesta altura, Sebastião da Gama, com 21 anos, era ainda estudante no curso de Românicas, na Faculdade de Letras de Lisboa. Tivera uma hipótese de a Livraria Portugália lhe editar o livro, mas, a 24 de Outubro, era-lhe dirigida uma carta, dizando que, naquele momento, não interessavam à editora “as publicações não integradas no plano” editorial, porque havia encargos com cerca de uma centena de originais, já pagos a autores e tradutores, e não havia como “dar vazão” a esse trabalho.
A família de Sebastião da Gama assumiu, então, os encargos financeiros advenientes da edição e o livro foi publicado com a chancela da Portugália, enquanto distribuidora. Com obra, dedicada a Alexandre Cardoso, seu tio, assumia o risco de vir a ser o “poeta da Arrábida”, elegendo a serra como motivo, como título e como origem. Assim dava cumprimento ao destino que se traçara numa quadra da infância, em linguagem infantil, que a mãe recordava: “Fui passear / à serra da Arrábia / e encontrei / uma mulher grávia.” Terão sido estas as primeiras rimas de Sebastião da Gama, não escritas, depois de um passeio à serra, quando ainda criança, mas já apontando as duas ideias que viriam a iluminar o seu primeiro título: a serra e a maternidade.
No ano anterior a esta publicação, em Maio de 1944, Ruy Cinatti, em Nós não somos deste mundo (Lisboa: Cadernos de Poesia, 1941), escrevera no exemplar do poeta azeitonense a dedicatória: “Ao jovem sucessor do Frei Agostinho, Sebastião da Gama, afectuosamente”. Sebastião da Gama não tinha ainda publicado livro, mas a sua condição de poeta da Arrábida estava já traçada (e reconhecida). Serra-Mãe iniciar-se-ia sob o signo de Frei Agostinho da Cruz, em cuja abertura seriam gravados dois versos deste poeta arrábido. (JRR)
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