Intervenção de António Canteiro, o poeta premiado, na sessão de entrega do Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama
Principio a
minha intervenção com um poema de SEBASTIÃO DA GAMA- PASMO: “Nessas noites mornas de calmaria, em que o
Mar se não mexe e o arvoredo não murmura, pedindo o Sol mais cedo, que o
resguarde da fria ventania; em que a lua boceja, se embacia, e as palavras
estagnam, no ar quedo, noites pobres – até chego a ter medo de me volver também
Monotonia. E então sinto vontade de atirar, meu corpo bruto e nu contra o
espanto da Noite, a ver se o quebro e vibro, enfim; cair no lago morto e
acordar os cisnes que adormecem de quebranto… Mas só caio, afinal, dentro de
mim”. (in Serra-Mãe, primeiro livro do autor).
Fiquei pasmo e caí depois dentro de mim,
naquele sábado à noite, quando estava em casa, em família, e o telefone tocou a
anunciar que o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama vinha de tão longe,
aqui do sul do tejo, para a Gândara de Carlos de Oliveira, onde vivo, um lugar
perto do mar. Fiquei Pasmo e apetece
irmanar o poeta da Arrábida com as palavras agora premiadas, de António Canteiro – Igualmente, PASMO:
“olho na frente o mar e pasmo!, ante a imensidão das águas misturadas no céu. e sinto a alma partir-se. que poderá o vento saber das gaivotas?, o horizonte do espelho do mar?, que poderá a água saber da voz da mãe que grita pelo filho perdido na fúria da maré?, olho na frente o mar e pasmo!, ante o ínfimo grão de areia, a meus pés…”
Quero agradecer este prémio à minha família, àqueles com quem vivo diariamente: o esteio e a alma das palavras nasce aí…
- Quero agradecer este prémio à Direção da
Associação Cultural Sebastião da Gama e ao júri que selecionou O SILÊNCIO SOLAR
DAS MANHÃS;
- Quero agradecer o título - O SILÊNCIO SOLAR
DAS MANHÃS -, que encontrei num verso do livro “A Criança em Ruínas” de José
Luís Peixoto;
- Quero agradecer este prémio a todos os
amigos e pessoas que leio (não só os escritores), mas todas as pessoas com que
me cruzo, e a quem leio a voz, os gestos e os silêncios;
- Quero agradecer este prémio a Matilde Rosa
Araújo, com quem me cruzei no final da sua vida, e que sendo a Matilde amiga,
contemporânea e admiradora de Sebastião da Gama, onde quer que esteja, terá
metido uma cunha para eu vencer este Prémio.
- Uma palavra ainda para Carlos de Oliveira, para referir uma
coincidência: é que entrei na escrita literária pela mão do Prémio Literário
Carlos de Oliveira de 2005, instituído pelo Município de Cantanhede (onde Vivo),
com o livro “Parede de Adobo”, era um romance em forma de poesia. Hoje,
ventejou-me a sorte de ter entrado na poesia, pela porta escancarada do Prémio Literário
Sebastião da Gama, com um livro de poesia em forma de prosa.
Se mais não fosse, teríamos aqui dois exemplos concretos onde a forma, a
beleza, o exterior, a cor da pele, a roupa, o sexo, a diferença, aquilo que é
primeiramente visível aos olhos, de pouco vale, o que interessa são as palavras
que estão lá dentro.
Obrigado a todos.
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