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Memória – Rui Serodio (1937-2011)

A notícia chegou brutal: morreu o Rui. Do lado de lá, o Jorge Calheiros falava emocionado. E foram uns segundos de silêncio a tentar aceitar o destino…
Há dois dias, enviei-lhe uma mensagem a saber da sua saúde e a dizer-lhe que tinha saudades de nos encontrarmos. Não respondeu. Como já não respondia a vários amigos há algum tempo. O estado de saúde não deixava…
Logo que o Jorge acabou de me dar a notícia, telefonei a outros amigos comuns. Espanto, desgosto, dor. Refugiei-me a ouvir, porque a tinha no carro, a música “Arrábida Minha”, que o Rui Serodio integrou no cd “The mystic of the piano”, homenagem que ele merece.
Tenho saudades do Rui. Muitas. Do seu humor fino. Do seu saber musical. Da sua vontade de animar projectos. Dos seus sonhos envolvidos em pautas e em sonoridades afáveis. Do seu estar. Do seu nunca saber dizer que não. Do seu olhar sobre a música – deixou registado no seu blogue: “Passei toda a minha vida integrado no mundo activo da música e estou intensamente ligado ao passado. A minha música pode parecer, muitas vezes, enigmática, mas é, frequentemente, o reflexo de duas formas de arte combinadas, a poesia e a pintura.”
Fico satisfeito porque tive a oportunidade de finalizar um projecto com ele – o do cd “Sebastião da Gama – Meu caminho é por mim fora”, cuja música é de sua autoria. Um dia, telefonou-me a dizer algo como: “Tenho arranjado música para muitos poetas e sinto-me mal por ainda não ter musicado Sebastião da Gama. Vamos fazer esse projecto?” Disse-lhe logo que sim e só depois fui ouvir os meus colegas da Associação Cultural Sebastião da Gama. Todos concordaram e o projecto começou a andar. E chegou a bom porto. A nossa satisfação foi grande. E a do Rui também, mesmo porque sentia que pagava um tributo ao poeta da Arrábida!
Tenho saudades do Rui, tenho. E vou continuar a ouvi-lo, porque ele merece. E a nossa amizade também. Fico contente por ter conhecido o Rui! - JRR

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