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Sebastião da Gama (en)cantado

A actuação do grupo e-Vox na noite de ontem, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, no programa de actividades do mês da música, interpretando poemas de Sebastião da Gama musicados por Salvador Peres (um dos elementos do grupo) provou bem que com a prata da casa se podem fazer belos espectáculos e que aquilo que é feito com gosto e dedicação atrai público. De facto, os sete poemas cantados, a que se somaram vários outros ditos por Elisabete Caramelo e por João Completo, entusiasmaram o público e confirmaram, para lá da dedicação de que já falei, estarmos perante um importante marco da cultura setubalense e portuguesa como é o "Poeta da Arrábida".
O concerto tomou o nome do título de um dos mais conhecidos poemas de Sebastião da Gama, “Pelo sonho é que vamos”, apresentando os textos “Quem me quiser amar”, “Nupcial”, “Rosas”, “Soneto do Tempo Perdido”, “Cantiga de Amor”, “Anunciação” e “O sonho”. Dizer que o público se deixou arrebatar é pouco – é que a sensibilidade posta na interpretação musical, a alegria transmitida pela voz de Diná Peres ou o adequado ritmo de leitura dos dois “diseurs” foram condimentos que conseguiram dar azo a que a mensagem do “Poeta da Arrábida” se tornasse presente e marcante.
Simultaneamente, funcionou um ateliê de pintura, em que intervieram dois conhecidos pintores setubalenses, Eduardo Carqueijeiro e Nuno David, que, durante o concerto, construíram uma obra de arte em torno do título “Pelo sonho é que vamos” à vista de toda a assistência, ali. As tonalidades, partindo do azul e do rosa, cativaram o espectador a itinerar no rumo do sonho, vórtice sobrevoante da Arrábida, com ponto de chegada indefinido, mas a fazer lembrar o coração da vida ou do mistério ou do sonho.
Foi difícil aos espectadores e ouvintes deixarem o espaço, foi difícil terminar. E, nesse fechar alongado, houve ainda a notícia divulgada: Eduardo Carqueijeiro, Nuno David e o grupo e-Vox decidiram oferecer a tela, de 1,33x2,05 m, à Associação Cultural Sebastião da Gama, gesto que, reconhecidamente, se agradece. - JRR
[Fotos: grupo e-Vox e os pintores Eduardo Carqueijeiro e Nuno David com a tela "Pelo sonhbo é que vamos"]

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