
Quando, no sábado, estava a acabar a sessão de apresentação pública do cd “Sebastião da Gama – Meu caminho é por mim fora”, começava na RTP 2 o programa “A alma e a gente”, do Professor José Hermano Saraiva, sob o título “Sebastião da Gama, o poeta da Arrábida”, episódio de 25 minutos, quase totalmente gravado no Museu Sebastião da Gama, em Azeitão.

Ter havido no dia 5 de Junho a apresentação do cd e este programa televisivo foi mera coincidência. Ao longo do programa, José Hermano Saraiva biografou Sebastião da Gama, leu dois dos seus poemas – “Serra-Mãe” e “Pequeno Poema” – e fez considerações sobre essa obra magna que é o Diário.
O programa usou uma linguagem bem acessível – como desde há muito é timbre nas séries apresentadas por José Hermano Saraiva – ainda que tenha incorrido numa ou outra pequena imprecisão de relato. No entanto, o retrato traçado de Sebastião da Gama saiu muito coincidente com aquele que todos os que o conheceram dele têm feito: figura “deslumbrante”, em cujo interior “parecia haver luz”, dotada de “prodigiosa irradiação de bondade”.
Se este foi o retrato do homem, quanto ao poeta, referiu Hermano Saraiva que ele teve dois grandes amores – “a mãe e a serra” – assim justificando o título do primeiro livro (Serra-Mãe) e explicando a ligação do poeta à serra pelo facto de “a Arrábida ter uma atmosfera mística”.
A vertente mais comentada no programa foi a faceta do professor, defendendo o autor do episódio que “para praticar o método seguido por Sebastião da Gama é preciso ter talento”, porque o ensino por ele defendido “criava perguntas e punha a turma a descobrir”, chegando a aula a ser “um festival”. A obra Diário afigura-se, assim, como o repositório de uma metodologia completamente nova, livro que, comentou Hermano Saraiva, “está esquecido e devia ser obrigatório na formação dos professores”, opinião que o levou a concluir o seu programa com uma pequena subversão intencional a um verso do texto “Pequeno Poema” – “Quando eu nasci ficou tudo como estava”, exarou Sebastião da Gama. “E não devia ter ficado!”, completou Hermano Saraiva.

Ao longo do programa, apareceram imagens do Museu Sebastião da Gama, em Azeitão, da serra da Arrábida e alguns exteriores de Vila Nogueira de Azeitão, designadamente o monumento a Sebastião da Gama que a Associação Cultural Sebastião da Gama ali erigiu em 2007 e de cuja Comissão de Honra José Hermano Saraiva fez parte. Como tendo contribuído para a memória do “Poeta da Arrábida” foram enaltecidos a criação do Museu Sebastião da Gama e o papel desempenhado por Joana Luísa da Gama, a esposa do poeta, que “dedicou a vida inteira a publicar a obra do marido”, designadamente o Diário, publicação póstuma saída em 1958, meia dúzia de anos depois de Sebastião da Gama ter falecido.
Um programa interessante de divulgação, que serviu, sobretudo, para uma chamada de atenção sobre esta figura da cultura portuguesa nascida em Azeitão, que foi “um dos grandes vultos da poesia portuguesa do século XX”, e para a necessidade de ser lido e estudado, especialmente no que à educação respeita. O programa pode ser visto no sítio da RTP. - JRR
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