Avançar para o conteúdo principal

Dos associados (25) - Luís Amaro

Em 1949, Luís Amaro (que é nosso associado desde o início) publicou o livro Dádiva (Lisboa: Portugália Editora), que mereceu de Sebastião da Gama uma carta de amigo, mais que de leitor. Ou talvez nela contendo as duas perspectivas, nela dizendo a dada altura: “O teu livro tem, além de muita poesia, de muito coração, de muita honestidade humana e de Artista, uma unidade que eu invejo”. No Diário, Sebastião da Gama registaria também, em curta e sentida nota (18 de Fevereiro de 1949): “Ao escrever isto – ser professor é dar-se – lembro-me do amaro. Pobre querido Amigo, tão nobre, tão modesto, tão pudico da sua intimidade. Um António Nobre que chegou tarde, uma flor que o vento magoou… Há três anos que lhe peço o livro: ele, tímido, recusa sempre mostrá-lo ao mundo. (…) Pois há uma semana encontrei o Amaro. Acompanhei-o. Junto de um portal, com medo de que alguém que passasse ou ouvisse, segredou-me: ‘Vou publicar.” – ‘Diário Íntimo?’ – ‘Não. Dádiva.’ Senti cá dentro uma lágrima que era a compreensão exacta e comovida daquele nome. Dádiva. Dádiva. Dádiva.”

Em 1975, Luís Amaro publicou Diário Íntimo (Lisboa: Iniciativas Editoriais), aí incluindo Dádiva, voltando a editá-lo em 2006 (Lisboa: & etc). Agora, nova edição surge – Diário Íntimo – Dádiva e Outros Poemas (Licorne, 2011), que merece nota no caderno “Atual” saído no Expresso de hoje, assinada por António Guerreiro, uma nota que é muito mais sobre o valor de Luís Amaro enquanto pessoa do que sobre o livro e que vale a pena ler para se ter uma ideia da importância do nome de Luís Amaro na literatura portuguesa do século XX. – JRR

Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Pequeno poema" ou uma evocação do nascimento

"Pequeno poema" ( Aqui e além . Dir: José Ribeiro dos Santos e Mário Neves. Lisboa: nº 3, Dezembro.1945, pg. 14) O dia do nascimento quis perpetuá-lo Sebastião da Gama num dos seus textos poéticos. E assim surgiu “Pequeno Poema”, escrito em 7 de Maio de 1945 e, em Dezembro desse ano, publicado no terceiro número da revista Aqui e além e no seu primeiro livro, Serra Mãe , cuja primeira edição data também desse Dezembro. De tal forma a sua mensagem é forte, seja pela imagem da mãe, seja pela alegria de viver, que este texto aparece não raro nas antologias poéticas, temáticas ou não, como se pode ilustrar através dos seguintes exemplos: Leituras II [Virgílio Couto (org.). Lisboa: Livraria Didáctica, 1948?, pg. 74 (com o título “Quando eu nasci”)], Ser Mãe [Paula Mateus (sel.). Pássaro de Fogo Editora, 2006, pg. 45], A mãe na poesia portuguesa [Albano Martins (sel.). Lisboa: Público, 2006, pg. 310]. (JRR)

"Cantilena", de Sebastião da Gama, cantado por Francisco Fanhais

Com a edição do Público de hoje completa-se a colecção “Canto & Autores” (Levoir Marketing / “Público”), de treze títulos, sendo este volume dedicado a Francisco Fanhais, constituído por booklet assinado por António Pires com um texto resultante de entrevista testemunhal a Fanhais e por um cd com 17 faixas, em que a canção “Cantilena” (letra de Sebastião da Gama e música de Francisco Fanhais) ocupa a sexta posição no alinhamento. Por este cd passam ainda versos de Manuel Alegre, de Sophia de Mello Breyner, de César Pratas e de António Aleixo, entre outros. O poema “Cantilena”, cujo primeiro verso é “Cortaram as asas ao rouxinol”, foi escrito por Sebastião da Gama em 25 de Novembro de 1946 e, logo no ano seguinte, escolhido para o que viria a ser o segundo livro do poeta, Cabo da boa esperança (1947). É um dos poemas clássicos da obra de Sebastião da Gama quando se quer referir a presença dos animais na poesia portuguesa, tal como se pode ver na antologia Os animais na ...

"Serra-Mãe", o primeiro livro de Sebastião da Gama

O primeiro livro de Sebastião da Gama foi Serra-Mãi (assim mesmo escrito), saído a público em Dezembro de 1945, com desenho de capa de Lino António, obra que muito cuidou e para a qual levou a preceito a selecção dos seus poemas. Nesta altura, Sebastião da Gama, com 21 anos, era ainda estudante no curso de Românicas, na Faculdade de Letras de Lisboa. Tivera uma hipótese de a Livraria Portugália lhe editar o livro, mas, a 24 de Outubro, era-lhe dirigida uma carta, dizando que, naquele momento, não interessavam à editora “as publicações não integradas no plano” editorial, porque havia encargos com cerca de uma centena de originais, já pagos a autores e tradutores, e não havia como “dar vazão” a esse trabalho. A família de Sebastião da Gama assumiu, então, os encargos financeiros advenientes da edição e o livro foi publicado com a chancela da Portugália, enquanto distribuidora. Com obra, dedicada a Alexandre Cardoso, seu tio, assumia o risco de vir a ser o “poeta da Arrábida”, elegendo a...