Ao
reler o livro de memórias desta nonagenária velhinha – não apresento desculpas pela redundância pois que
a vibração é tanta que me sinto no dever de ir na crista da onda de um rebate
aflito de sinos dentro de mim! –, fico emudecido, embevecido pela e com a
ternura cristalina com que Joana Luísa da Gama constrói o seu livro, uma obra
bem organizada pela sequencia espácio-temporal dos relatos que a preenchem e
enriquecem e pela simplicidade da linguagem, uma terminologia directa,
escorreita, onde nunca faltam aqueles grandes assomos de feminil doçura ou de
ais magoados que se deixam transportar dentro de testemunhos autênticos todos feitos de estalidos
crepitantes, sendo eles as marcas de um olhar para trás, de má avença, uma
saudade que nada devolve mas que vincam bem um pairar de voo de saudades
irremediáveis e uma orfandade dolente que se nos transmite até ao rebentar da
emoção pela rotura das lágrimas….
Na
verdade, esta obra vem completar um poeta desaparecido há seis décadas, vem, e restitui-lhe
com ardorosa veneração o que lhe faltava, celebra-o com luminoso amor e honra-o
com justa e rutila bondade humana. E revela-nos facetas absolutamente
desconhecidas até há bem pouco tempo pelo ineditismo de aspectos pessoais até
cheios de intimidades que se espalham ao longo da obra, toda ela trespassada pela
coragem de uma mulher forte e beijada pela alma de um ser humano de eleição.
Sobre
intimidades e privacidades Joana Luísa não tem rebuço em nos adentrar aspectos
que, tendo sido seus e, sendo agora do domínio publico, permanecem sempre seus,
dado que, em dias escaldantes, a água fresca do outro ser humano pode ser a
festa sagrada das fontes puras em jorros de cristalinidade que apaziguam as
sedes ardentes que Joana deixa transparecer e que também são sedes de outros
poetas e leitores-sedes que gretam lábios abertos na espera sofrida do que
jamais se alcança …
Nocturno
(poema inscrito no livro)
Rendas de Som o mar foi levantando,
que enfeitaram de branco a Noite
escura.
Ventos sem fé, puseram mãos nervosas
nos vestidos da Noite e lhos rasgaram.
Anda a noite a gemer pelas devesas…
Chora lágrimas de Astros que humedecem
de fulgores riquíssimos seu manto.
Oh! Que régios farrapos, seus farrapos!
Minha Amante mais alta e mais formosa!
aqui me tens de lábios bem abertos
e rubros e sedentos de teus beijos.
Deixa a minha nudez cobrir teus ombros
e dá-me a glória virgem do teu peito.
E se o Dia chegar, que o dia fique lá
fora, ao Sol,
à espera que se acabe a eternidade
desta hora magnífica de noivos.
Ar. 20-7-946
Sebastião
Este livro, sendo
uma viagem pelas interioridades de uma mulher do povo simples das terras
sadinas, não deixa de ser ainda uma verdadeira mostra de retratos da sua terra
de outras épocas num esboço socioafectivo comovente pela espontaneidade do
fluir das prosas e pela imensa ternura que assinala cada página. Assim, Joana
Luísa, sem intencionalidade premeditada, faz reviver características culturais,
humanas e comportamentais Azeitonenses de um País pré e pós guerra onde um modo
de ser poético foi mais do que uma atitude de aceitação, mas sim, uma das
formas de expressividade de vários grupos juvenis inconformistas que não
aceitavam modelos convencionais mas iam em busca de outros parâmetros líricos
de expressão para novas maneiras de intercomunicabilidade na aventura estética
de inconformismos criativos. E conseguiram-no!
Sebastião da Gama, neste livro, vai de
mão em mão com companheiros pelo braço brando e meigo da meninice e, depois,
das juvenílias enamoradas-vai a caminho nas brincadeiras de criança lépida, no
ternurento namoro florido de adolescente, vai noivar com Joana e casar com a Poesia para sempre.
Bendito seja!!!
Daniel Nobre Mendes
que meigos,que tristes ,qeue verdadeiros são dnm ,l.da gama e seu namorado!
ResponderEliminaraqui fica o meu testenmunho e aplauso do trxto.
zélia cansado
como posso adquirir esse livro tão bem analisado por daniel?
ResponderEliminarele faz um relato afetivo interessante sobre tantas coisas tão lindas.
muito obrigada!
jenifer nunes
estado de amapá-- brasil
Cara Jenifer Nunes,
ResponderEliminarSe está interessada em obter o livro, dirija email nesse sentido à Associação Cultural Sebastião da Gama (acsgama@sapo.pt). Obrigado.
texto espantoso porque a lingua portuguesa ainda traduz sensibilidades e sebastião da gama permanece virgem nas memórias de todos nós!
ResponderEliminarcatarina de abreu nunes e josias ataíde---- fortaleza, ceará,brasil