O Parque dos Poetas, em Oeiras, constituído por vinte estátuas de poetas portugueses do século XX, todas da autoria do escultor Francisco Simões, não inclui a estátua de Sebastião da Gama. Mas poderia ter incluído. Aliás, segundo me contou o próprio escultor, este jardim para os poetas lusos do século XX foi ideia conjunta do artista e de David Mourão-Ferreira e, no início do projecto, o nome de Sebastião da Gama constava na lista dos vinte a figurarem no Parque…
No entanto, o Parque dos Poetas faz-se também com os poemas que estão lavrados no chão, rasgados em pedra, aí constando muitos nomes de outros poetas portugueses do mesmo século, que, não tendo lá a sua estátua, têm a sua palavra. É o que sucede com Sebastião da Gama, que, numa das entradas do Parque, tem esculpido o conhecido poema “Louvor da Poesia”, texto que o poeta legou como um quase testamento poético.
O poema está datado, em manuscrito, de 7 de Fevereiro de 1950, com dedicatória ao Dr. Virgílio Couto (1901-1972), professor metodólogo que acompanhou o estágio de Sebastião da Gama na Escola Veiga Beirão, em Lisboa. Foi, aliás, por esta altura, que terminou a experiência pedagógica de estágio com a turma que surge retratada no Diário. Viria a ser inserido no livro Campo aberto (1951), o último que Sebastião da Gama publicou.
Disse acima que este poema ficou como testamento poético, afirmação que decorre da resposta que o poeta deu para a revista Sísifo nesse mesmo ano de 1951. Andava Manuel Breda Simões (1922-2009) a preparar o quarto número da revista quando decidiu encetar uma antologia da poesia portuguesa com informações dadas pelos próprios autores. O primeiro poeta seleccionado foi Sebastião da Gama, que respondeu ao questionário de quatro perguntas (que iria ser igual para os outros entrevistados), assim se identificando na quarta, que pretendia saber o que o poeta pensava “da Poesia em geral, e da própria poesia”: «Minhas ideias acerca da poesia. Vide: 'Louvor da Poesia', in Campo Aberto. Será tudo? Olhe que a resposta não é para posar. É que só nos versos sei o que penso da Poesia.» Infelizmente, Sebastião da Gama não viu esta resposta publicada, porque o número 4 da revista, embora tendo a data de 1951, saiu já depois do seu falecimento (7 de Fevereiro de 1952), juntando-se neste exemplar da revista a resposta do poeta e a notícia sobre o seu passamento. - JRR
Louvor da Poesia
Dá-se aos que têm sede,
não exige pureza.
Ah!, se fôssemos puros,
p’ra melhor merecê-la…
Sabe a terra, a montanhas,
caules tenros, raízes,
e no entanto desce
da floresta dos mitos.
Água tão generosa
como a que a gente bebe,
fuja dela Narciso
e quem não tenha sede.
No entanto, o Parque dos Poetas faz-se também com os poemas que estão lavrados no chão, rasgados em pedra, aí constando muitos nomes de outros poetas portugueses do mesmo século, que, não tendo lá a sua estátua, têm a sua palavra. É o que sucede com Sebastião da Gama, que, numa das entradas do Parque, tem esculpido o conhecido poema “Louvor da Poesia”, texto que o poeta legou como um quase testamento poético.
O poema está datado, em manuscrito, de 7 de Fevereiro de 1950, com dedicatória ao Dr. Virgílio Couto (1901-1972), professor metodólogo que acompanhou o estágio de Sebastião da Gama na Escola Veiga Beirão, em Lisboa. Foi, aliás, por esta altura, que terminou a experiência pedagógica de estágio com a turma que surge retratada no Diário. Viria a ser inserido no livro Campo aberto (1951), o último que Sebastião da Gama publicou.
Disse acima que este poema ficou como testamento poético, afirmação que decorre da resposta que o poeta deu para a revista Sísifo nesse mesmo ano de 1951. Andava Manuel Breda Simões (1922-2009) a preparar o quarto número da revista quando decidiu encetar uma antologia da poesia portuguesa com informações dadas pelos próprios autores. O primeiro poeta seleccionado foi Sebastião da Gama, que respondeu ao questionário de quatro perguntas (que iria ser igual para os outros entrevistados), assim se identificando na quarta, que pretendia saber o que o poeta pensava “da Poesia em geral, e da própria poesia”: «Minhas ideias acerca da poesia. Vide: 'Louvor da Poesia', in Campo Aberto. Será tudo? Olhe que a resposta não é para posar. É que só nos versos sei o que penso da Poesia.» Infelizmente, Sebastião da Gama não viu esta resposta publicada, porque o número 4 da revista, embora tendo a data de 1951, saiu já depois do seu falecimento (7 de Fevereiro de 1952), juntando-se neste exemplar da revista a resposta do poeta e a notícia sobre o seu passamento. - JRR
Louvor da Poesia
Dá-se aos que têm sede,
não exige pureza.
Ah!, se fôssemos puros,
p’ra melhor merecê-la…
Sabe a terra, a montanhas,
caules tenros, raízes,
e no entanto desce
da floresta dos mitos.
Água tão generosa
como a que a gente bebe,
fuja dela Narciso
e quem não tenha sede.
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