(...) A história contada em A Senhora da Fonte [de Luísa Borges (Lisboa: Chiado Editora, 2010)] apresenta vários pontos de contacto com a região azeitonense, não só pelas descrições que são feitas da serra da Arrábida, vista a partir da vila, mas também pela lenda de Hildebrando, pela presença dos golfinhos roazes e ainda pela invocação de Dona Constança, que por estas terras terá andado com o seu Pedro no que foi a Quinta da Nogueira.
Mas a ligação mais intensa surge através do poeta, figura algo mítica e fantasmática que funciona como adjuvante do grupo de jovens aventureiros na busca de Bernardo. Vários versos de Sebastião da Gama vão intercalando a narrativa, normalmente para funcionarem como chave de revelação, característica que bem assenta na ideia de poeta. A imagem que do poeta surge é a identificação com a figura de Sebastião da Gama, ainda que isso não seja explicitado, mas apenas sugerido por um adereço como a boina ou pelo permanente ar de simpatia e pelo sorriso ou por a personagem estar a dizer versos que têm como autor o poeta de Azeitão, assim o caracterizando. Interessante se torna verificar que é através da orientação dada pelo poeta que os jovens da história se salvam, ora porque ele se torna presente quando menos se espera, ora porque é ele quem conduz o barco que afasta o grupo de todos os perigos. Esta ideia de ser um poeta a salvar as crianças é forte nesta história, num quase hino de exaltação à poesia, verdadeiro “salvo-conduto” que o remador poeta vê renovado quase no final da narrativa, depois de uma viagem “debaixo da terra, dentro da montanha”, navegando num “rio secreto”. (...)
Continuação do texto aqui.
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