A
obra de Sebastião da Gama foi visitada por Eugénio Lisboa numa excelente
comunicação apresentada na Biblioteca Municipal de Setúbal na noite de 16 de
Novembro, actividade promovida pela Associação Cultural Sebastião da Gama. Como
tema, uma ideia muito querida da geração do poeta azeitonense – “Não ter
vergonha de ser sincero”.
Eugénio
Lisboa, estudioso atento da literatura portuguesa, mostrou bem aquilo que
Maximiano Gonçalves (que o apresentou) indicou como “o seu prodigioso aparelho
cultural” através “da internacionalização do que leu, do que ouviu, do que viu,
do que sentiu”. Com efeito, a comunicação de Eugénio Lisboa não versou apenas a
sinceridade em Sebastião da Gama, mas também em muitos outros escritores, não apenas
portugueses, transportando para esta conferência não apenas o eventual interesse
local mas a universalidade da literatura.
«Sebastião
da Gama é um dos poucos escritores do qual se pode dizer, sem hesitar, que o
homem que fez a obra coincide, ponto por ponto, com o homem que a obra faz
supor», começou por dizer Eugénio Lisboa, que não conheceu pessoalmente o autor
de Serra-Mãe, mas dele conseguiu ter
o retrato através de amigos como Alberto Lacerda e José Régio, além do recurso
aos seus escritos.
Eurico
Lisboa seguiu, de resto, muito a visão de Régio, poeta de quem Sebastião da
Gama muito se aproximou. A correspondência e outros registos regianos passaram
por esta conversa de Eurico Lisboa de tal maneira que foi possível à
assistência reviver o que pode ter sido o convívio entre estas duas figuras e
quais seriam os dotes que Sebastião da Gama detinha, não só na sua forma de
estar, mas também na sua escrita – «a imagem de um ser humano dotado de dons
poéticos, no melhor sentido desta expressão: de um ser humano dotado de
frescura, de sinceridade, de pureza, de uma quase mágica comunhão com tudo o
que vive, de um respeito minucioso e infinito para com a natureza, de uma
espécie de afecto muito simples mas, ao mesmo tempo, muito transcendente».
Outro
aspecto apresentado por Eugénio Lisboa foi a questão da morte na poesia de
Sebastião da Gama, que constituiu «um grande incentivo para cantar a vida», com
especial chamada de atenção para o facto de não ter sido o sofrimento a causa
da obra, antes a existência de um talento que «se fez ouvir, apesar de e não
por causa da sua doença», forma de reconhecer o mérito do poeta. A finalizar,
Eugénio Lisboa registou a sua inquietação com uma pergunta, para que encontrou
resposta emprestada pelo autor de Um
eléctrico chamado desejo: «O que faz que se possa nascer com tanto talento
e, tão prematuramente, ferido de morte? Não sei responder, confesso. Mas sempre
vos deixo, aqui, a propósito, e para acabar, estas palavras do dramaturgo
americano Tennessee Williams: ’A vida é uma pergunta sem resposta, mas seja-nos
permitido acreditar na dignidade e na importância da pergunta.’» - JRR
[foto: Eugénio Lisboa na Biblioteca Municipal de Setúbal]
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